segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

É

Parece o tempo apagar as palavras escritas, sentidas e ditas.
Parece que é vento que sopra sobre a folha escrita, dissipa as letras escritas de areia, dissolve os sentidos e as emoções.
Mas, apenas parece.
Apenas porque deixamos que o pó se acumule sobre os livros que já não folheamos, porque deixamos que se escondam por entre milhares de outros sentidos aqueles que mais nos tocam. Ainda me lembro da textura da tua pele, do calor da tua mão quando tocava a minha.
Ainda sinto na boca, o gosto da tua língua que me penetrava.
Ainda me arrepia o corpo, quando me recordo de como me mordias o lábio no final de um beijo prolongado, ainda.
Depois, o olhar de criança fixado no castanho dos meus olhos, a delicadeza com que pronunciavas cada palavra, a suavidade da tua imagem que se propaga para alem da escuridão.
Depois, o palpitar do teu coração, junto ao meu peito, quando de improviso te abraço, te beijo.
O silêncio, e a calmaria que se instalou, no momento seguinte a provares os meus lábios.
Não há como esquecer o que sempre esteve presente, não há tempo que apaga, ou vento que trespasse a intensidade dum sentimento.
Há apenas o entendimento, desta forma transcendental de amar, ambígua quiçá, mas tão real como outra qualquer.
Este livro, cheio de palavras, enrola-se como pergaminho, nos sentidos despertos atrás no tempo, abraça-se como fogo à lenha seca...
...como água ao corpo despido...

...que mergulha no oceano.

Há tempo, muito tempo, para forçar as tangentes, permitir que as barreiras cedam e se invadam os mundos com a perfusão das essências que são as nossas.
Há tempo, para deter o curso do mesmo, suspender a inspiração, o bater do coração.

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