sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Acho que é assim....

"Tentei descrever o amor, do ponto de vista da razão, subvertendo o que a natureza humana dele pretende: um fim para o desejo, para a desordem dos sentidos, para a falta de entendimento de quem vive solitário.
Não sei o que descrevi: se esse conjunto de emoções que se concentra no instante da paixão, transformando a alma numa fogueira feita de mágoa e alegria; se o instante em que toda a percepção é absorvida por ti, mesmo que tu me peças que não perca juízo e coração, ambos envoltos na estranha tormenta que os teus olhos desencadeiam.
Em tudo isto, é certo que reina a cegueira que nasce desta contradição entre tormento e júbilo.
Saber que me amas, como eu te amo, são os dois pratos da balança em que ambos pesamos a relação que nos envolve.
Um trabalho de equilíbrio, sustentando a esquiva memória que se torna presente em cada novo contentamento, obriga-me a repartir o que me dás por mim e por ti, para que nada sobre do que nos junta.
É que o amor é isto que se consome até esse nada de que renasce; e o próprio nada é tudo o que dele sai.
Os teus lábios que se fecham quando me olhas, e os teus olhos que se abrem se me falas; as tuas palavras que me distraem do que dizes; e o que dizes quando as minhas palavras te distraem.
Assim estive algum tempo a descrever o amor; até que o amor me descreveu, e ambos nos tornámos claros um para o outro, como o amor descreve."

Nenhum comentário: