quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sede

Gostaria que fosse minha a sede que te seca os lábios.

Gostaria que fosse meu o ar que te falta e sufoca.
Gostaria que fossem teus os seixos do meu rio.
Queria que fossem minhas as marés que te alagam.
Queria melodia nas minhas águas com esse teu sorriso maroto.
Queria que fosse tua a palavra não dita na minha mordaça.

Agora eu …
Eu sou apenas ampla... apenas plena de sentidos, para que me decifres inteira … eu apenas eu …
Inunda-me, arrebenta-me sempre com as tuas vazantes e torrentes, inunda-me sempre porque eu tenho sede.
O nome que me cala é teu... É minha a fome que te abrasa.É teu o sabor da minha saliva.
A saudade que em ti mora também me faz cativa.
São tantos os teus os sinais pelo meu corpo.
São tão profundas as marcas dos meus pés pelo teu caminho.
Toca-me com a tua urgência.
Esculpe em mim, o teu desejo, a tua fome que bem conheço.
Faço-me pequena para que possas conter-me.
E nesses teu toque... viro poema sussurrando as palavras que nunca te entreguei.
Em troca... quero apenas a tua deligência... o teu desacato aos pudores.
Em troca... quero toda a vastidão do teu sentir.
Quero a tua sede, o teu fogo, o teu desejo trespassando-me, desnudando-me, traduzindo-me por inteira.
Rabisca na minha pele arabescos de arrepios... desgoverna os meus rumos...
Desvenda os meus segredos... arrebata os meus pudores;
Despe-me desta casca de casulo entre segredos que me guardo;
Cala o meu grito com a tua boca… inunda-me...
Mas inunda-me sempre...
Tenho tanta sede…

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